*As próximas páginas são um pequeno manual de bem-viver. Nelas você vai encontrar desde maneiras descomplicadas de pôr fim àquele relacionamento que não traz mais alegria até idéias muito práticas - e completamente viáveis - de pagar suas dívidas. Leia e guarde para aplicar todo dia
*27 SAÍDAS ESPERTAS PARA RELACIONAMENTOS NOCIVOS
1 As mulheres mais propensas a relacionamentos nocivos são muito altruístas. Levam a extremos a missão de cuidar do outro. "É preciso também cuidar de si mesma, não apenas do outro e da relação, e impor limites. É uma questão de saúde mental".
2 Uma das formas mais eficazes de impor limites é tornar- se assertiva na relação. "A assertividade é importante porque, sem ela, em algum momento sobrevirá a agressividade". "Significa colocar-se na relação, dizer o que gosta e o que não aceita."
3 Uma chave para lidar com os relacionamentos nocivos: assumir que manter um vínculo como esse é uma escolha e, assim, tornar-se protagonista da própria história. O marido ciumento ou o namorado que a trata com indiferença não é carma nem destino: é a pessoa que você trouxe para sua vida. Portanto, é possível expulsá-lo.
4 Outra questão a ser levantada é: o que você ganha com esse relacionamento nocivo que não consegue romper? Em geral, a carência afetiva é um dos motores mais eficientes para a manutenção de uma relação desse tipo.
5 Observe a comunicação entre você e a pessoa nociva. Se o marido bisbilhotou seu talão de cheques, a primeira reação é partir para o ataque: Por que você fez isso?" Experimente mudar o discurso:"Por que você acha que tem o direito de olhar meu talão?" ,ou seja,"Discuta exaustivamente até chegar ao âmago da questão".
6 Num relacionamento destrutivo, a melhor maneira de ajudar o outro é negar-se a ajudá-lo. Sua irmã vive pedindo dinheiro emprestado e nunca devolve? Diga não. Isso a obrigará a procurar uma saída duradoura para o problema. Depois, não fique se torturando com culpa: lembre-se de que uma relação doentia causa devastação profunda em quem a sustenta e pode até mesmo levar à depressão.
7 Ao tentar romper um relacionamento nocivo, é natural que a outra parte reaja para manter a situação tal como está. Imagine que você ajuda financeiramente sua mãe, mas a certa altura decide contribuir com menos dinheiro porque precisará bancar um curso universitário. Provavelmente, ela vai se ressentir da mudança e sair com a acusação: "Você não gosta mais de mim?". Mantenha-se firme na decisão e não abra espaço para a culpa.
8 Pessoas com auto-estima elevada se envolvem menos em relações destrutivas. Portanto, invista na sua. Não é que seja uma vacina para o resto da vida, mas os riscos de se meter numa roubada são sempre menores para quem gosta de si mesma e confia no próprio taco.
9 Para ter boa auto-estima, é preciso se conhecer bem. Portanto, uma terapia bem conduzida ajuda a resgatar e rever pedaços da nossa história que não ficaram resolvidos lá atrás e pode se revelar um investimento precioso para a vida toda. É uma grande ferramenta de fortalecimento interno. Não dá para fazer agora? Então encontre um tempo para você e invista em pequenas coisas que a façam feliz, como ver no cinema a comédia romântica da hora ou fazer uma caminhada num parque.
10 O medo da solidão é um fantasma que assombra as mulheres envolvidas em relacionamentos nocivos. "Conheci uma moça que dizia: 'Ele me faz muito mal, mas, se eu terminar tudo, com quem vou ficar no final de semana?. Nessa hora, é bom lembrar que a família e a rede de amigos podem ser reconfortantes. "Ajudam a quebrar o mito do desamparo."
11 Espiritualidade faz toda a diferença. Ter uma crença firme numa força superior revigora o espírito e pode ser o empurrão que faltava para pôr o ponto final numa relação perniciosa. "Confie um pouco mais no andar de cima".
12 Na atual crise de emprego, nem sempre dá para pedir a conta quando se tem um chefe nocivo, mas é possível fugir das situações que favorecem a afronta. "A presença de uma platéia, por exemplo, é quase sempre uma tentação para um chefe prepotente, que se alimenta da humilhação dos subordinados", ou seja, "O melhor a fazer nesses casos é evitar situações de confronto em público."
13 É possível que o chefe nem tenha percebido quanto ele é difícil. Se for esse o caso, pode valer a pena agendar uma conversa. No entanto, se ele usa você sistematicamente como bode expiatório, não adianta tentar ser terapeuta que a situação só tende a piorar. "Peça uma transferência de seção ou, em último caso, deixe corajosamente o emprego em nome da saúde emocional", ou seja, "Se não tomar uma atitude agora, um dia você vai acabar saindo
por motivo de doença. Então, melhor que seja antes."
14 Afaste expectativas ingênuas. Em geral, um namorado tenta mostrar o que tem de melhor. Se ele se comporta mal já nos tempos de namoro, mostrando-se autoritário, grosseiro ou possessivo, o jeito é optar pela ruptura logo. A tendência é piorar depois do casamento.
15 Com marido nocivamente ciumento é outra coisa. Há uma grande diferença entre "dar satisfações" e prestar contas". "A primeira expressão diz respeito a ver o outro satisfeito e é parte de todo vínculo que se quer amoroso; a segunda indica hierarquia e não cabe numa relação simétrica", , ou seja, "A confusão entre as duas pode provocar muito sofrimento gratuito."
16 Proponha uma terapia de casal. Se, apesar dos problemas e das diferenças, os dois ainda estiverem interessados no bem-estar um do outro, não será complicado aceitar a indicação terapêutica, mesmo que isso leve um tempo.
17 Como identificar a hora de romper um relacionamento nocivo? "Quando o ressentimento é maior que a esperança, não há conversa nem limite que resolva". Se ainda há esperança de resgate, vale tentar um diálogo franco mesmo que doa. Caso contrário, evite sofrimento inútil: saia à inglesa, como costumam dizer os franceses.
18 Até onde pode chegar uma relação destrutiva? Depende do limite de cada um. Eu ouvi falar de uma história de um casal em que o marido traía constantemente a mulher - que sabia, porém ignorava as traições na tentativa de preservar o casamento. Até o dia em que ele perdeu a aliança, descuido que ela considerou intolerável. Qual é o seu limite?
19 A reincidência é um fantasma que assombra quem já viveu uma relação perniciosa. O único jeito de não cair de novo na mesma armadilha é fazer uma revisão das condições que levaram à dinâmica nefasta. Sem procurar os fatores pessoais que colaboraram para a formação e manutenção desse enredo, não existe saída: a tendência é mesmo repetir o script.
20 Relações nocivas em família são complicadíssimas. "Não se trata de um vínculo eletivo, como o marido". É recomendado diplomacia e, sobretudo, buscar uma distância ideal entre o superenvolvimento (que convida a aprofundar o relacionamento destrutivo) e a desconexão.
21 No livro PESCANDO BARRACUDAS, o psicoterapeuta Joel Bergman conta a interessante história de um vínculo nocivo entre mãe e filho. Ela ligava várias vezes para o trabalho dele sem razões importantes. Um dia, o filho inverteu a situação: ligou oito vezes para a mãe - na última, só para avisar que estava de saída e que, portanto, ela não poderia encontrá-lo nas próximas horas. A mãe irritou-se, disse que estava bem "grandinho" e que não precisava dar tantas satisfações.E parou de ligar compulsivamente.
22 Se o problema é em família, uma tática que funciona (mas exige que você seja boa atriz), é a de ser exageradamente direta: diante da sogra que tenta jogá-la para baixo, caia no maior choro, confirmando que você se sente mesmo muito gorda ou muito relaxada - e não sabe mais o que fazer para mudar isso. Se o irmão pede dinheiro emprestado e não paga, lamente-se das dificuldades em que vive (mas só se ele sempre pede dinheiro e não paga - em caso de emergência, se puder, não hesite em ajudar!) e pergunte se ele não está em condições de lhe emprestar algum. Para histórias terríveis, conte outras piores. O resultado é ótimo.
23 Para lidar com uma sogra complicada,recomendado cooptar o marido. Se ele estiver ao seu lado, será mais simples convencê-la de que a casa é de vocês. Às vezes, basta um pequeno toque.
24 Quando se chega às raias da violência física, o melhor é sair de perto, sem contemplação, e tomar providências. Contra a força física não há argumento.
25 Há um novo tipo de relacionamento nocivo na praça, que Lidia Aratangy batizou de "gigolôs modernos": são namorados que perdem o emprego, se hospedam provisoriamente na casa da namorada e vão ficando, ficando, como se não pudessem contar com mais ninguém no mundo (e, já que estão duros, nem sequer se oferecem para rachar as despesas). A moça começa se achando muito importante, tão boa samaritana, até gostando desse inusitado papel de anjo protetor. Não acredite nisso! Ninguém é tão desamparado: ele deve ter irmãos, pais, padrinhos ou amigos. E, se não tiver mesmo ninguém a quem recorrer, pior ainda! O que terá acontecido para todo mundo sumir da vida dele?
26 Há quem construa relacionamentos nocivos até com o verdureiro. É bastante comum fornecedores antigos abusarem dessa condição. No começo, tratam bem, oferecem as melhores frutas ou verduras, dão descontos, mas depois, na certeza de já ter conquistado o freguês, passam a relaxar, a cobrar mais caro etc. E a dona-de-casa se sente amarrada, não consegue comprar da banca vizinha nem reclamar do tratamento que está recebendo. Daí, não existem meias medidas: é romper mesmo, comprar em outra banca (não precisa ser na banca do lado, para não parecer provocação) e fim de papo.
27 Só é possível permanecer num relacionamento nocivo sem se machucar muito quando se tem consciência de que foi uma escolha. "Há mulheres que detestam fazer sexo com o marido, mas permanecem com ele porque é generoso e paga as contas. Mantêm a relação sem sofrer tanto porque têm clareza de que preferem assim e de que vale a pena", diz Lana Harari.